quinta-feira, 24 de junho de 2010

Uma ridícula carta de amor


Já dizia Fernando Pessoa:

"Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)"


Como ridículas são aquelas criaturas que nunca escreveram uma carta de amor, hoje não sou mais uma pessoa ridícula.
Escrevi uma carta de amor, ridícula.
E foi tal ridicularidade que me fez perceber o quanto é gostoso me sentir ridícula por uma carta de amor.

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