quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Mais um pouco de Caio em mim, em nós.

"Olha, estou escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo o meu processo mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir. Eu não achei que ia conseguir dizer, quero dizer, dizer tudo aquilo que escondo desde a primeira vez que vi você, não me lembro quando, não me lembro onde. Hoje havia calma, entende? Eu acho que as coisas que ficam fora da gente, essas coisas como o tempo e o lugar, essas coisas influem muito no que a gente vai dizer, entende? Pois por fora, hoje, havia chuva e um pouco de frio: essa chuva e esse frio parecem que empurram a gente mais pra dentro da gente mesmo, então as pessoas ficam mais lentas, mais verdadeiras, mais bonitas. Hoje eu estava assim: mais lento, mais verdadeiro, mais bonito até. Hoje eu diria qualquer coisa se você telefonasse. Por dentro também eu estava preparado para dizer, um pouco porque eu não agüento mais ficar esperando toda hora você telefonar ou aparecer, e quando você telefona ou aparece com aquelas maçãs eu preciso me cuidar para não assustar você e quando você me pergunta como estou, mordo devagar uma das maçãs que você me traz e cuido meus olhos para não me traírem e não te assustarem e não ficarem querendo entrar demais no de dentro dos teus olhos, então eu cuido devagar tudo o que digo e todo movimento, porque eu quero que você venha outras vezes e eles dizem que se eu mostrar como realmente sou você vai ficar apavorado e nunca mais vai aparecer nem telefonar – eu não agüento mais não me mostrar como sou. Hoje de manhã eu acordei bem cedo, e depois de conversar com eles consegui permissão para caminhar sozinho no jardim, eu disfarcei muito conversando com eles porque queria muito caminhar sozinho no jardim. Àquela hora ainda não estava chovendo, ou estava, não me lembro, ou havia chovido ontem à noite, não, acho que não estava chovendo não, porque eu lembro que as folhas estavam limpas e molhadas e a aterra tinha um cheiro de terra molhada: comecei a lembrar, lembrar, lembrar e o meu pensamento parecia um parafuso sem fim, afundando na memória, eu não suportava mais lembrar de tudo o que se perdeu, tudo o que perdi, não fui e não fiz, mas não conseguia parar. Então comecei a gritar no meio do jardim molhado com as duas mãos segurando a minha cabeça para que não estourasse. Aí eles vieram e disseram que não tinha jeito e que estavam arrependidos por terem me deixado sair sozinho e que aquela era a última vez e que eu disfarçava muito bem mas não conseguiria mais enganá-los. Eu disse que não tinha culpa do meu pensamento disparar daquele jeito, mas acho que eles não acreditaram, eles não acreditaram que eu não consigo controlar pensamento. Então me deram uma daquelas injeções e eu afundei num sono pesado e sem saída como este espaço dentro desses quatro muros brancos. Foi depois que acordei, não sei se hoje ou amanhã ou ontem, eu te escrevo dizendo hoje só para tornar as coisas mais fáceis, foi depois de acordar que perguntei se você não tinha vindo nem telefonado, e eles disseram que você não viera nem telefonara. É provável que estivessem mentindo, eles dizem que eu preciso aceitar mais a realidade das coisas, a dureza das coisas, e às vezes penso que tornam de propósito as coisas mais duras do que realmente são, só pra ver se eu reajo, se eu enfrento. Mas não reajo nem enfrento. A cada dia viver me esmaga com mais força. Não sei se eles escondem de mim a sua visita, se não me chamam quando você telefona, se dizem que já fui embora, que já estou curado, não sei se você não vem mesmo e não telefona mais, não sei nada de ninguém que viva atrás daqueles muros brancos, você era a única pessoa lá de fora que entrava aqui de vez em quando. É verdade que eles todos moram lá fora, mas é diferente, eles vivem tanto aqui dentro que não consigo acreditar que sejam iguais os lá de fora, como você. Você, sim, era completamente lá de fora. Digo era porque faz muito tempo que você não vem porque guardei no meio das minhas roupas um pedaço daquela maçã que você trouxe da última vez, e aquele pedaço escureceu, ficou com cheiro ruim, encheu de bichos, até que eles me obrigaram a jogar fora. Acho que os pedaços de maçã só se enchem de bichos depois de muito tempo, não sei. Parei um pouco de escrever, roí as unhas, preciso roer as unhas porque eles não me deixam fumar, reli o começo da carta, mas não consegui entender direito o que eu pretendia dizer, sei que pretendia dizer uma coisa muito especial a você, alguma coisa que faria você largar tudo e vir correndo me ver ou telefonar e, se fosse preciso, trazer a polícia aqui para obrigá-los a deixarem você me ver. Eu sei que você quer me ver. Eu sei que você fica os dias inteiros caminhando atrás daqueles muros brancos esperando eu aparecer. Eles não deixam, acho que você sabe que eles não deixam. Não vão deixar nem esta carta chegar às suas mãos, ou vão escrever outra dizendo que eu não gosto de você, que eu não preciso de você. Mas é mentira, você tem que saber que é mentira, acho que era isso que eu queria dizer preciso escrever depressa antes que eu me esqueça do que eu queria dizer era isso eu preciso muito muito de você eu quero muito muito você aqui de vez em quando nem que seja muito de vez em quando você nem precisa trazer maçãs nem perguntar se estou melhor você não precisa trazer nada só você mesmo você nem precisa dizer alguma coisa no telefone basta ligar e eu fico ouvindo o seu silêncio do outro lado da linha ou do outro lado da porta ou do outro lado do muro ou do outro lado... Parei um pouco de escrever para olhar pela janela e principalmente para ver se eu conseguia deter o parafuso entrando no pensamento. Acho que consegui. Porque quando começo assim não consigo mais parar, e não quero que eles me dêem aquela injeção, não quero ouvir eles dizendo que não tem remédio, que eu não tenho cura, que você não existe. Eu acho graça e penso em como você também acharia graça se soubesse como eles repetem que você não existe. Depois eu paro de achar graça e fico olhando a porta por onde não entra o telefone por onde você não fala e me lembro do pedaço apodrecido daquela maçã e então penso que talvez eles tenham razão, que talvez você não exista mesmo. Mas não é possível, eu sei que não é possível: se estou escrevendo para você é porque você existe. Tenho certeza que você existe porque escrevo para você, mesmo que o telefone não toque nunca mais, mesmo que a porta não abra, mesmo que nunca mais você me traga maçãs e sem as suas maçãs eu me perca no tempo, mesmo que eu me perca. Vou terminar por aqui, só queria pedir uma coisa, acho que não é difícil, é só isso, uma coisa bem simples: quando você voltar outra vez veja se você me traz uma maçã bem verde, a mais verde que você encontrar, uma maçã que leve tanto tempo para apodrecer que quando você voltar outra vez ela ainda nem tenha amadurecido direito."

domingo, 10 de julho de 2011

Infinitivamente

Sorrir. Abraçar. Olhar. Imaginar. Querer. Alegrar. Ouvir. Divertir. Conhecer. Despertar. Confidenciar. Importar. Confundir. Entender. Acalmar. Desculpar. Procurar. Confessar. Presentear. Aceitar. Planejar. Concretizar. Prometer. Cumprir. Acordar. Pensar. Dormir. Sonhar. Sentir. Desejar. Apaixonar.

sábado, 2 de julho de 2011

Malandragem do destino

Era madrugada de inverno e lá fora só o frio fazia barulho. Lá dentro, no escuro iluminado pela luz eletrônica e no calor transmitido pelos pedaços de tecidos aquecedores, não foi necessário nada mais que  "um olhar com outros olhos" diante daquela foto projetada através de uma pequena tela;  para que seus dias dali em diante mudassem por completo, mesmo que ela ainda de nada soubesse. Era algo que nunca sequer havia passado pela sua cabeça e, para a sua surpresa, chegou causando vibrações confusas naqueles sentimentos que há um certo tempo, ali se encontravam intactos, um pouco enferrujados e ainda marcados pelo mau uso. Foi quando uma sensação de coragem assoprada em seu ouvido fez com que ela, involuntariamente, se deixasse levar pelo impulso daquele afetuoso olhar, fazendo transcender aquilo que se manifestara pelas tais vibrações estranhas que percorriam de forma gradativamente acelerada todos os cantos do seu corpo. 
E por aquela fria noite, nada mais aconteceu, além de uma inquietação que perturbava seu sono, trazendo em sua mente por seguidas vezes a tal foto, que por diversas vezes já tinha cruzado sua visão, mas talvez nunca a tivesse visto daquela forma. 
Peça do destino? Talvez. 
E mal sabia ela que por um certo tempo esteve tão próxima de algo que pudesse te desorientar, tirar seu sossego e dar ritmo àquele coração coberto de marcas e ferrugens. E mal sabia ela o que estava por vir.
Mas o destino é maladro, ah... ele é sabido. 
De forma inaparente, ele trata de anteceder tudo aquilo que de passageiro está destinado a cruzar pelo caminho, para que o quanto antes possa seguir em frente, apenas registrando nas pegadas que ficaram para trás, o segredo de saber esperar, aprender acreditar e entender que: aquilo que de fato vem pra ficar, vem com calma, com dificuldade, com o seu devido tempo e um gosto especial.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Inquietação

Quem sou eu? Uma pergunta que talvez devesse ser respondida todos os dias, por todas as pessoas desse mundo, ao se encontrarem com a cabeça no travesseiro, no silêncio escuro e calmo. Tentar entender o porquê de cada dia, de cada ato, de cada palavra; sugiro eu, que possa ser uma boa tentativa de desacelerar essa caminhada rumo à loucura que tem seguido as nossas vidas.
Estou assustada. Cada minuto que se passa, cada pessoa que me ultrapassa, uma supresa diferente. E logo digo, surpresas nada agradáveis essas. 
O individualismo humano tem se manifestado cada dia mais. Pessoas preocupadas apenas com sua própria satisfação, outras preocupadas com seus próprios caprichos. Pessoas passando por cima do sentimento de outras, como se fosse algo muito normal, pessoas agindo de má fé em prol do seu próprio ego, como se fosse algo completamente natural.
Por que tanta surpresa, se o fantasma da traição é algo que nos acompanha desde tempos antigos? Pergunta simples de resposta clara. Simplesmente pelo fato de acreditar que "só acontece com os outros, não acontece comigo". E quando menos espero, ali estão, pessoas próximas, pessoas queridas, pessoas que um dia jurei serem "para sempre"; buscando sua própria ascenção e SÓ.
Mania idiota de acreditar nas pessoas. 
Mania idiota de me entregar a um só sorriso. 
Mnia idiota de dar sem receber nada em troca.
Mania de idiota de manias idiotas.
E assim vai caminhando nosso mundo de "cada um por si e Deus por todos". Vai caminhando rumo ao rumo, rumo que desconheço.

Eu? Eu continuo na minha teoria de paz. Eu quero paz. Se não me traz paz, por favor, me deixe em paz.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

sábado, 16 de abril de 2011

Sinastria da alma

"No amor, um mais um são um. Raramente temos a oportunidade de testemunhar a arte de amar, mas é isso que todos nós realmente desejamos. Não apenas ser amado, mas para ser amado de forma incondicional, o amor verdadeiro entre almas gêmeas. Mas, no entanto, raramente estamos preparados quando isso acontece. Talvez você já tenha tentado colocar um sentido na sua vida, uma busca incessante para que o espiritual se conecte de outras formas. Ou, você talvez, seja um daqueles raros e poucos abençoados quem encontram um amor verdadeiro muito cedo na vida. Para outros, a vida pode parecer um pouco mais cruel."
Quando de repente, você se vê habitando um mundo bonito, onde há músicas, sorrisos e fiapos de vida. As cores gritam aos seus olhos e a vontade de fazer da vida um parque de diversões é tamanha.
Conheço esses sintomas. E se o pouco do que carrego nessa bagagem não me permite enganar, suspeito de algo que chamam de amor.
Alguns confundem atração física com amor, outros se empolgam e já denominam como amor maior.
Não se egane, amor é aquilo que faz o coração ensurdecer o resto do mundo com suas batidas e coloca o corpo em estado de vibra-call. Amor é o que te prova que a expressão "perder o fôlego", não é só mais um velho clichê.
Amar é gostoso, faz tudo parecer mais bonito. Chamaria de viver um conto de fadas, até certo ponto.
No entanto, essas historinhas que a inocência das criancinhas as fazem acreditar, são parte do "mundo-do-pra-sempre", o que não acontece com muitos de nós, quando provamos do verdadeiro amor.
O efeito da sinastria da alma é tão intenso, que pode te desestruturar ao ponto de te desviar do caminho do "pra-sempre", te fazendo perceber que um coração mesmo batendo, pode parecer em pedaços e amarrado a sete cordas.
É, o amor não é fácil, nem um pouco fácil.
Não é um mar de rosas, não são mil maravilhas, como parece ser.
O amor não é pra qualquer um.
O que vai sobressair, ao calar de todas as bocas, é até onde você vai em nome desse amor.
Será que o amor é mesmo capaz de superar tudo?

"- Peyton, meu amor, o que houve?
- É a Molly... ela vai se mudar. E eu a amo tanto.
- Quer se controlar? Quer se controlar? Esta é uma lição importante para aprender na vida. Quando você ama, espere decepção. É o jeito que as coisas são... É o jeito que as coisas são..."
 Elena Undone

domingo, 6 de fevereiro de 2011

E por falar em medo... medo?

Numa quente e silenciosa madrugada de domingo, entre quatro paredes brancas e escuras, agora vive um coração cheio dos mais intensos desejos, sonhos, medos e inseguranças.
Coração ele que agora já não é mais o mesmo.
Um coração que traz consigo um novo sonho. Um novo sonho que traz consigo novos planos. Novos planos que trazem consigo um novo objetivo. Um novo objetivo que traz consigo uma nova vida. Uma nova vida que traz consigo um novo coração.
Coração novo, trêmulo, que agora chora de medo. Medo comparado ao de um filho que acaba de nascer e sai pela primeira vez, de perto do calor de sua mãe. Ao passar pelas frias mãos de pessoas estranhas, ele se assusta, mas passado o impacto, acaba sendo obrigado a se acostumar. É tudo uma questão de costume.
E se esse bobo coração agora guarda pontinhas de medo e insegurança, é por que de sonhos ele está totalmente preenchido. E antes fossem apenas sonhos. Não, vai muito além disso.
O que ontem vivia projetado num amanhã bem distante, hoje se torna realidade a cada segundo passado pelo ponteiro do relógio.
Relógio que não espera o coração sentir medo.
Relógio que faz o coração pulsar, quando bate a saudade.
Relógio que faz o coração se dispor a lutar pela realidade, que com cara de felicidade está aí, tão próxima, implorando pra ser vivida.
E o que ante era medo, já não existe mais. Ou se existe, passa a ser considerado pseudo-inexistente.


"Eu sei, não é assim, mas deixa eu fingir e rir."
Los Hermanos

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Era verão e o sol finalmente brilhava sobre aquele céu azul "de dar gosto", depois de muitos dias sequestrado pelas incessantes chuvas de verão.
Mas, diante de seus olhos, o sol tinha um brilho especial. E não era apenas o sol.
O mundo parecia girar em câmera lenta.
Pelas ruas, as pessoas distribuiam sorrisos carregados de magia. A velha amiga de infância, simpatia, por ali repousava.
Os mais diversos sons do universo filtravam-se em seus tímpanos, transformando em suaves acordes que soavam como uma calma música em seus ouvidos.
As páginas de seu livro, que antes amareladas e tomadas pelo mofo do abandono, agora eram o mais novo esconderijo de flores, cores e amores.
As ruas e esquinas desejavam-lhe boas vindas e siga em frente, quando por elas passava.
Inesperadmente, todo o universo conspirava a seu favor.

"Toc, toc, toc..."
Haviam chamado em sua porta.
Sem qualquer medo ou receio, ela se prontificou a atender.
Era o amor.